domingo, julho 23, 2006

Arte



Arte…

… deixas-me tão preso a ti quando lhes quero falar de ti. Agarras-me a memórias que associo a ti. Fazes-me sorrir pela grandeza que atinges. Fazes-me cair pela minha incapacidade em ficar aí em cima a acompanhar-te… tocar-te… viver-te e assim descrever-te com arte.

A Arte muda… continua… apaixona… esquece… perdura… cria… anula…respira… morre… e renasce em cada suspiro.
Não sei o que seria o Mundo sem arte, mas sei que a Vida deixaria de ter aqueles momentos em que nos apetece dizer “A Vida é Bela!”. Com ela somos capazes de proporcionar beleza ao ridículo. Com ela… conseguimos persistir no efémero. Permite-nos adicionar um toque de desnecessário na utilidade das coisas e, assim, dar sentido à vida. Com ela podemos apreciar. Despir o mundo das suas características ridículas do “tem de ser”e dar-lhe significado para além do“é a vida!”. A Arte possibilita-nos ser um pouco mais do que o próprio mundo espera de nós. No fundo… com a arte podemos até vir a gostar de viver.

A Arte reside no gosto que se tem por tudo. No paladar para além de saciar. No contemplar para além de ver. No escutar para além de ouvir. No perfumar para além de cheirar. No sentir para além de tocar.

A Arte… a arte consiste em deleitar cada traço de vida, ao invés de resignar e morrer.

Serve apenas para uma coisa… Viver.
Sem ela??!! Bem… sem ela nada de amor, nada de sorrisos, … e nada de dor. Mas… a arte não é também viver? E viver não é sentir lágrimas e sorrisos para que estas pintem a nossa vida? A Arte provoca sentimento… e provém do sentimento. Do bom? Do mau? … do forte, sentido… daquele que muitas vezes parece contido e se solta em expressões que alentam o próprio momento e o vestem de cores, cheiros, sabores, toques,…horizontes.
Mas não é preciso ir tão fundo para compreender o valor da arte nas nossas vidas. Imaginem, por exemplo, cada objecto que vos acompanha munido apenas da sua função utilitária. Dá para imaginar? Seria um mundo de quinas vivas? Seria tudo sem qualquer cor? Seríamos completamente apáticos a emoções? Bem… mais estáveis seríamos com toda a certeza… mas nunca poderíamos experimentar a oportunidade que a vida nos deixa, Viver. E viver não é andar por cá… não é passar por cá. Implica arte porra!!! É tão profundo, … tão lindo, tão forte!!! É que está mesmo em tudo… desde aquele cantinho que temos nosso e onde somos quem no fundo somos, até àquela vela que noutros tempos apenas servia para iluminar a escuridão.

Tantas vezes baixamos os olhos desanimados com o que temos, não temos, ou sentimos falta. Talvez devêssemos em cada um desses instantes perceber, sentir e fazer sentir que a arte leva-nos sempre mais longe. Leva-nos tão próximos ao que faz parte de nós, que está mesmo diante de nós com um beleza extrema e nós nem reparamos. Leva-nos a ter no futuro o que não temos hoje. A possuir amanhã de forma mais merecida aquilo com que nos contentamos em não querer hoje. E leva-nos a perceber o sentido de cada vez que “sentimos falta”. Proporciona-nos amor pela rotina… dá-nos o toque de agradável ao útil… e dá-nos sempre vontade de viver.

Por tudo isto… há que respirar o azul do céu e olhar cada vento que passa… para percebermos que cores somos e em que campos nos pintamos.


... é sentir um outro mundo e moldá-lo ao nosso.